Ela sabe que é a decisão errada

Raul Ferreira
2 min readApr 22, 2020

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Quando o celular apita e eu leio a mensagem “talvez você fique bravo com o que eu vou dizer”, invariavelmente eu fico bravo. Não sei se ela realmente me conhece ou se de tão óbvio que são alguns absurdos, fica fácil adivinhar as reações que serão desencadeadas na sequência. É como encher um local com combustível e, antes de acender um fósforo, se lamentar supondo que provavelmente as coisas ficarão quentes.

A inconsequência nunca foi um problema na nossa amizade. Desde que nos conhecemos, o papel de um sempre foi ser irresponsável, enquanto o do outro — que geralmente sou eu — consiste em ser o chato que perde tempo aconselhando, mesmo sabendo que nunca será ouvido. Be patient (referência perfeita para a sequência das minhas reações com ela).

Quando li aquela mensagem no meu celular, na última terça-feira, gostaria de ter um conselho extremamente convincente ou ao menos uma resposta que à fizesse refletir um pouco mais. Ela sabe que tomará a decisão errada. Eu sei que ela sabe. Mas como posso convencer uma pessoa que o caos é o responsável por evidenciar quem nós realmente somos? Como posso convencer que essa luz que ela encontrou no fim do túnel é apenas um relâmpago em meio a tempestade? Nada além de uma descarga elétrica que ilumina momentaneamente o céu antes de deixá-lo ainda mais escuro.

Quando alguém se coloca em frente ao precipício, não importa o que os amigos ou socorristas digam, a decisão de dar ou não um passo a frente é estritamente da pessoa em questão. Aos outros, basta gritar avisando que ainda há escolha.

Eu só queria avisar que estou gritando. E acredite, eu sei que não há decisão fácil, mas ainda sim, há decisão certa e errada. E independente da escolha, eu ainda estarei aqui pro que der e vier.

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