Memórias de um pagodeiro

Raul Ferreira
1 min readJul 9, 2020

--

Eu virei pagodeiro quando ela me pediu pra bater naquele pandeiro. No dia que Arlindo Cruz foi a trilha sonora do nosso banho de chuveiro. “Será que é amor?” — Eu nem consegui disfarçar. A pergunta veio do cantor, mas do jeito que ela me encarou, seu sorriso virou Meu Lugar.

De repente, o coração blindado ficou a mercê. E cada manhã com aquela mulher, cada bom dia com gosto de café, nos tornava um pouco MPB. Feito poema de Chico, suave como a voz de Elis, devagar devagarinho ao melhor estilo Martinho, sem pressa nenhuma para ser feliz.

Ela foi o refrão preferido batido na palma da mão. O samba-enredo escolhido para alegrar o meu barracão. Nota dez em alegoria, fantasia e evolução. Mas da noite pro dia, preferindo a boêmia, botou fim na nossa canção.

Hoje bebendo cerveja, me lembrei dela sorrindo. Certo estava Cartola: o mundo é realmente um moinho. O amor se vive a dois e a solidão não se lamenta sozinho. pois desde que a morena se foi, quando não chora eu, chora meu cavaquinho.

--

--