Tudo culpa do orgulho

Ontem ela me ligou no meio da noite. E com uma voz que misturava lamentação e desespero, disse estar arrependida de tudo que havia dito, afinal, não poderia viver sem mim. Pediu para que eu repensasse, pois sua alegria, seu futuro e o conto de fadas que ela havia idealizado em sua cabeça, dependia apenas de minha resposta.

Não posso negar que, por um momento, uma fração de segundos, eu cogitei largar tudo e me entregar de vez para o amor que batia — batia não — espancava minha porta no meio da madrugada de segunda-feira. Antes de responder, me vi no altar, com os padrinhos emocionados, os convidados fotografando cada passo da noiva que entrava lentamente na capela ao som da marcha nupicial. Tudo muito simples, sem extravagâncias.

Mas a verdade é que eu deixei o orgulho falar mais alto. Fingi uma superioridade inexistente e disse que precisava de um tempo para pensar melhor. Foi quando ela sussurou:

— Não faz isso comigo, Cláudio.
 — Oi? Como assim CLÁUDIO? Aqui é o Raul.
 — Ai moço, desculpa. Foi engano então.

Fiquei sem chão. Não sei bem como explicar, mas perdi o amor da vida de outra pessoa.