Às vezes a gente só precisa de uma notícia boa

Raul Ferreira
2 min readFeb 20, 2020

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Estava longe de ser um dos meus melhores dias. Aliás, muito pelo contrário. Era uma segunda-feira para ser esquecida, riscada do calendário. Lembro que tomei chuva indo trabalhar, indo almoçar e voltando para casa. O dia perfeito para não ter saído da cama — o que, infelizmente, nunca é uma opção. Estava tudo uma merda até as 21h19.

Você já recebeu uma mensagem que fosse capaz de mudar as últimas 21 horas e 19 minutos? Porque foi exatamente o que aconteceu quando eu saí do banho, peguei o celular e chequei as notificações. Entre as várias conversas pendentes no aplicativo, logo no topo havia uma mensagem enigmática de um dos meus melhores amigos. As interrogações que enviei foram respondidas quase que imediatamente com um vídeo capaz de deixar qualquer olho cheio d’água.

Seis segundos, apenas seis segundos de um coração que batia em ritmo acelerado, como faz a bateria de escola de samba do mestre Plínio quando atravessa a marquês de Sapucaí servindo de trilha sonora para as mais belas fantasias. Seis segundos que me lembravam o batuque das arquibancadas depois de um gol nos acréscimos, com o barulho do surdo que estremece o chão e cria ondas sonoras que mais parecem um tsunami invadindo nosso coração e o obrigando a bater no mesmo compasso, criando a sincronia perfeita. Seis, doze, dezoito segundos de tum tum tum tum… e já não me recordava de um motivo sequer para reclamar da tal segunda-feira.

Naquele momento, eu queria mostrar para o meu amigo o quanto eu estava feliz. Tão feliz quanto no dia em que fui padrinho de seu casamento e, de um local privilegiado — bem ali do lado do altar — pude testemunhar a melhor das escolhas que ele tomou na vida, até então. E, logo eu que amo escrever, não encontrava palavras que expressassem com perfeição tudo o que estava sentindo por ele, pela esposa e pelo pedacinho de ser humano do vídeo. Quinze anos de amizade passavam pela minha mente enquanto eu repetia a música de uma nota só — tum tum tum tum — e procurava expressões no vasto vocabulário da língua portuguesa.

Se eu pudesse, voltaria no tempo e avisaria o meu amigo de quinze anos atrás que aqui no futuro deu tudo certo. Vem um bebê por aí e a primeira coisa que eu consegui falar foi “espero que chute melhor do que o pai” hahaahahaha. Estou certo de que o Danilo do passado saberia que apesar da distância, a amizade continuou a mesma.

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